Reconhecimento do ambiente estrutural e atenção às exigências reguladoras são fatores essenciais para atrair investimentos e atender em escala.

Credito das fotos: Gilberto Soares/ CLB
O segundo painel do Workshop Técnico realizado pela CropLife Brasil e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), nesta quarta-feira (13), teve como temática o acesso a modelos de financiamento pela cadeia produtiva em suporte a recuperação de pastagens degradadas. No diálogo do seminário, especialistas do setor público e privado conversaram sobre o cenário do Brasil em termos de linhas de crédito, alternativas de investimentos e fontes de recurso e contrapartidas que os produtores precisam assumir em troca do benefício fiscal.

Com mediadora do assunto, a consultora em Inovação e Sustentabilidade na Agropecuária do IICA, Renata Miranda, ambientou que antes de tratar do recurso, é fundamental que o produtor compreenda qual a qualificação do ambiente degradado, suas características e protocolos, de forma a garantir o baixo risco e atrair investimento seguro, sobretudo de outras fontes que não somente o público. “Precisamos atrair investimento internacional, investimento privado e melhorar o ambiente estrutural para que isso aconteça de forma mais robusta e estável”. Por outro lado, Renata reforçou também a necessidade de os agentes de crédito atingirem a ponta, para possibilitar capacidade competitiva e oportunidade de mercado para pequenos e médios produtores.

Do ponto de vista de integração entre atores financeiros e contribuição para a restauração de solos, o diretor do Instituto Equilíbrio e da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Eduardo Bastos, ressaltou que o diálogo com o produtor é chave para entender a assistência técnica mais adequada para que haja o direcionamento do recurso. “Como a gente traz mais capital catalítico para reduzir riscos? Como eu levo assistência técnica em seção rural, especialmente em gestão? (…) Como eu levo mais informação? Quando eu recupero uma pastagem, não estou só produzindo mais fibra e energia para o animal. Eu estou recuperando o solo. Quanto mais matéria orgânica, maior a capacidade de fertilidade e mais produtivo o sistema”. Segundo ele, o direcionamento de recurso é uma demanda complexa e exige interconexão de saberes dos envolvidos na cadeia.

O gerente de portfólio de Conservação de Florestas Tropicais do banco alemão de investimentos e desenvolvimento KFW, Hans Christian Schimidt, também presente no painel, tratou dos requisitos técnicos e exigências para aprovação de projetos agropecuários e aporte dos recursos. “É importante primeiro consolidar as políticas de proteção e uso sustentável dos recursos naturais para criar a base, para a partir disso ter ganho fiscal”. Dentre os pré-requisitos básicos considerados pelo banco para entender potencial investimento estão o cumprimento da legislação ambiental e as salvaguardas socioambientais.

Na perspectiva da escala de ações, sobretudo de recuperação do solo, um dos desafios está em pactuar propostas de desenvolvimento que interliguem União, estados e instituições envolvidas. Leonardo Bichara, representante do Banco Mundial, contou como são estruturados financiamentos que combinam escala, rastreabilidade e até mesmo inclusão de produtores no território financeiro. “Assim como a KFW, o Banco Mundial tem uma preocupação cada vez maior de os projetos serem estruturantes. Não estamos mais financiando projetos individuais que não contribuam para um desenvolvimento comum”. Como exemplo, foi mencionado um programa multifásico de desenvolvimento do sistema agroalimentar, oferecido aos estados brasileiros, cuja oferta de subsídios se baseia em indicadores comuns como assistência técnica, acesso ao crédito e tecnologias voltadas à convivência com as mudanças climáticas.

Também no mesmo sentido investidor, Cecília Guerra, executiva do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), compartilhou que uma das estratégicas do banco é atrair investimento verde de fora e financiar por dinheiro e linhas de financiamento a fim de trabalhar de forma adaptada aos países mais vulneráveis. Segundo ela, também é preciso preparar o produtor para chegar neste recurso. “Não são só as questões técnicas, é como esse produtor está preparado para receber, administrar o fundo e apresentar as contas”, completou.
O encontro tem como objetivo construir documento setorial com orientações, contribuições e recomendações alinhadas ao uso correto e sustentável do campo. O seminário consolida a primeira entrega, dentro do pacote de compromissos firmado entre a CropLife Brasil e o IICA com a agenda do clima, no contexto da COP30 a ser realizada novembro em Belém, Pará.